A sensação é que todo dia chega à coluna Panorama um vídeo novo, uma denúncia nova, uma baixaria nova. Condomínios — especialmente em Natal e na Grande Natal — viraram praça de guerra institucionalizada, com regras que quase ninguém segue e um nível de convivência que beira o insuportável.
Ponta Negra, Capim Macio, Tirol, Nova Parnamirim, Cajupiranga, Cotovelo, São Gonçalo do Amarante, Extremoz… não importa o CEP, o padrão da fachada ou a quantidade de câmeras instaladas: as pessoas simplesmente não estão sabendo — ou não querem — viver em coletividade.
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É briga por causa de síndico. É ameaça por conta de prestação de contas. É vizinho agredindo outro por causa de vaga de garagem, criança no parquinho até meia noite ou barulho de sandália às 6 da manhã. E o que era pra ser um modelo de segurança e ordem virou um retrato da falência da educação básica — aquela que se aprende (ou não) dentro de casa.
A selva com portão eletrônico
Tem síndico sendo perseguido como se fosse político em final de mandato. Tem morador que grava todo mundo com o celular na mão, como se o condomínio fosse tribunal. Tem gente que se recusa a pagar a taxa condominial, mas exige que limpem a entrada da sua porta. E tem os que decidem tudo por WhatsApp, com aquela mistura tóxica de emoji passivo-agressivo e texto em caixa alta.
Não há conciliação possível quando cada um se acha o dono do terreno inteiro — esquecendo que pagou por um pedaço, e não por um trono.
O resultado? Portarias com mais boletins de ocorrência do que correspondência. Assembleias canceladas por falta de respeito. Advogados especializados em “crimes de condomínio”. E famílias que vivem trancadas dentro do próprio apartamento, não por medo de assalto, mas por vergonha ou receio do vizinho do lado.
Da promessa de sossego ao inferno coletivo
Quando alguém compra um imóvel em condomínio, a propaganda sempre diz a mesma coisa: “segurança, lazer, tranquilidade, qualidade de vida”. Mas na prática, o que se vê é o contrário.
A vida em condomínio virou um espelho da pior parte da sociedade urbana: o individualismo agressivo, a desconfiança constante e a incapacidade de diálogo. Não há regra que resolva o que é, antes de tudo, um colapso de educação emocional.
E o mais preocupante é perceber que não são só os grandes empreendimentos que sofrem com isso. Desde condomínios populares até os mais luxuosos, todos têm em comum um ambiente onde o que vale é a vontade de quem grita mais alto. Onde voto em assembleia vale menos que o barraco no grupo.
A tragédia é cultural
Não é exagero: viver em condomínio virou um risco. E não falo do risco de segurança física — embora ele também exista — mas do risco psicológico de ter que conviver com gente que te odeia só porque você votou contra a instalação de uma segunda guarita.
E aí entra a pergunta incômoda: onde está a falha? Está no síndico? Na convenção mal redigida? Nos condôminos que se acham fiscais da moral?
Talvez a resposta esteja na base: falta educação — e não a da escola, mas a que deveria vir da casa, da infância, do exemplo. Falta empatia, falta tolerância, falta bom senso. E sobra soberba, ignorância e gente que acha que lei só serve quando favorece.
Às vezes, penso que era melhor morar num sítio
A verdade é que, nos últimos meses, comecei a achar mais saudável viver isolado num canto de sítio, com cerca de arame farpado, do que trancado entre quatro paredes ouvindo vizinho xingar porteiro, latido de cachorro na sacada e briga de casal no elevador. Penso eu que a solitude do mato seja mais segura do que a falsa segurança do interfone.
E às vezes, admito: penso que viver numa casinha simples, trancado e em paz, talvez seja o verdadeiro luxo moderno. Paz virou item de luxo. E a convivência virou um campo minado com CNPJ e taxa extra.