Leitura modifica o cérebro: estudo revela impacto da atividade na estrutura cerebral

Leitura modifica o cérebro: estudo revela impacto da atividade na estrutura cerebral
Imagem de Felix Wolf por Pixabay

Um estudo recente publicado na revista Neuroimage revela a influência da leitura na estrutura cerebral. A pesquisa, conduzida pelo Professor Mikael Roll da Universidade de Lund, analisou dados de mais de 1000 participantes para identificar as características cerebrais de leitores com diferentes habilidades.

O declínio no hábito da leitura é uma preocupação crescente. Dados da Reading Agency mostram que 50% dos adultos no Reino Unido não leem regularmente (aumento de 42% desde 2015), e quase um quarto dos jovens entre 16 e 24 anos nunca foram leitores. A pesquisa do Professor Roll investigou o impacto dessa mudança na estrutura do cérebro.

O estudo identificou diferenças na anatomia cerebral de bons leitores em duas regiões do hemisfério esquerdo crucial para a linguagem: o polo temporal anterior e o giro de Heschl. O polo temporal anterior associa e categoriza informações significativas, combinando dados visuais, sensoriais e motores para dar sentido a uma palavra, como por exemplo, “perna”. Já o giro de Heschl, localizado no lobo temporal superior, abriga o córtex auditivo.

Os resultados indicaram que leitores com melhor desempenho apresentavam uma parte anterior maior do lobo temporal esquerdo em comparação com o direito. Esta descoberta sugere que uma área cerebral maior dedicada à compreensão de significados facilita a leitura. A relação entre o córtex auditivo e a leitura, aparentemente menos intuitiva, se deve à necessidade de associar letras a sons da fala, um processo chamado de *consciência fonológica* – um precursor bem estabelecido para o desenvolvimento da leitura em crianças, conforme pesquisas anteriores.

O estudo também observou que um giro de Heschl esquerdo mais fino foi previamente associado à dislexia, que envolve dificuldades graves de leitura. No entanto, a pesquisa demonstra que a variação na espessura cortical não cria uma divisão simples entre pessoas com ou sem dislexia, mas sim um espectro em que um córtex auditivo mais espesso se correlaciona com uma leitura mais hábil.

A espessura cortical não é o único fator determinante. A mielina, uma substância gordurosa que isola as fibras nervosas e aumenta a velocidade da comunicação neural, também desempenha um papel crucial. Colunas neurais, consideradas unidades de processamento, são isoladas e comunicam-se mais rapidamente no hemisfério esquerdo de bons leitores, favorecendo o processamento rápido e categórico necessário para a linguagem.

De acordo com o “modelo do balão” do crescimento cortical, a maior quantidade de mielina comprime áreas corticais do hemisfério esquerdo, tornando-as mais finas, porém mais estendidas. Isso foi corroborado pela pesquisa, que constatou áreas corticais maiores, porém mais finas, com maior grau de mielina no hemisfério esquerdo. A capacidade de integração de informações parece beneficiar-se de um córtex mais espesso, como observado no lobo temporal anterior, cuja estrutura mais espessa permite um processamento mais holístico da informação, segundo estudos anteriores.

A fonologia, habilidade complexa que integra características sonoras e motoras em sons da fala, correlaciona-se com um córtex mais espesso em uma área próxima ao giro de Heschl esquerdo. Embora não esteja claro até que ponto a fonologia é processada no giro de Heschl, a observação de que foneticistas frequentemente possuem múltiplos giros de Heschl esquerdos sugere uma ligação com sons da fala.

A plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade do cérebro de mudar com a aprendizagem, ressalta a importância do hábito da leitura. Estudos mostram o aumento da espessura cortical em áreas da linguagem em adultos jovens que estudaram idiomas intensamente. A leitura, portanto, provavelmente molda a estrutura do giro de Heschl esquerdo e do polo temporal.

A pesquisa conclui que a diminuição da priorização da leitura pode impactar nossa capacidade de interpretar o mundo e entender os outros, sugerindo que o hábito da leitura não é apenas uma atividade pessoal, mas um serviço à humanidade.

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