A falta prolongada no fornecimento de bolsas de colostomia no Rio Grande do Norte expõe uma realidade dramática enfrentada por pacientes ostomizados. Sem acesso regular aos kits fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), muitos vêm recorrendo a soluções improvisadas e extremamente precárias, como o uso de sacos de supermercado.
A situação, segundo relatos, se estende há cerca de seis meses, afetando diretamente a qualidade de vida de quem depende desses insumos para o cotidiano.
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“Estamos sem esse material há aproximadamente seis meses, sem bolsas coletoras. Algumas pessoas recebem, outras não. O material que está sendo usado está vencido desde novembro”, denunciou a professora Adja Felipe em entrevista à TV Tropical nesta segunda-feira (9), sintetizando a insegurança que atinge os pacientes.
As bolsas de colostomia são dispositivos médicos indispensáveis para pessoas que passaram por cirurgias de derivação do trânsito intestinal ou urinário, como colostomias e urostomias. Sem o fornecimento adequado, o risco de complicações infecciosas, vazamentos, lesões de pele e constrangimentos sociais se agrava.
O custo elevado do produto no mercado torna sua aquisição inviável para muitos pacientes: uma única caixa com dez unidades chega a custar R$ 280, tornando a falta do abastecimento público ainda mais crítica.
A aposentada Célia Dantas, em tratamento de câncer na bexiga, descreve o sofrimento diário com o uso de materiais inadequados. “Estou muito deprimida por conta disso, porque a que eu estou usando está me dando alergia, queima. Ela vaza xixi. Está faltando, e é cara”, desabafa. A escolha forçada por bolsas vencidas ou adaptadas não apenas compromete a saúde física, mas afeta o equilíbrio psicológico dos pacientes.
Para denunciar o problema e exigir providências, pacientes realizaram uma manifestação em frente ao Centro Especializado em Reabilitação (CER), localizado no bairro Tirol, zona Leste de Natal. Entre as principais demandas, está o reestabelecimento imediato do fornecimento regular dos kits, uma responsabilidade direta do governo estadual.
“A gente que é aposentado tem outras medicações, e fica difícil para a gente. A gente vem aqui, e a resposta é ‘não tem’. O que está acontecendo?”, questiona o também aposentado Eduardo Leite, sintetizando a sensação de abandono que permeia os relatos.
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) informou, ainda em maio, que o processo de licitação para aquisição de novos materiais está em fase final de tramitação, o que permitiria a retomada gradual da distribuição dos kits. Até a efetiva normalização, no entanto, pacientes seguem lidando com a instabilidade e a incerteza sobre o acesso ao item essencial.
O drama vivenciado pelos ostomizados no Rio Grande do Norte não envolve apenas o fornecimento de insumos médicos. Reflete a vulnerabilidade de um grupo que, diante de uma condição crônica, depende integralmente do suporte público para manter dignidade, saúde e qualidade de vida.