Natal quase assistiu a uma tragédia. Quase.
A fala do presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Norte (Crea-RN), Roberto Wagner, nesta segunda-feira (12), não deixa dúvidas: a Ponte de Igapó já esteve em condição estrutural crítica, em um nível de risco comparável à ponte que desabou na divisa entre Tocantins e Maranhão no final de 2024. Segundo ele, a classificação dada pelo DNIT, à época, colocava a ponte de Natal em nível 2 de criticidade, numa escala de 1 a 5 — sendo 1 o mais grave e 5 o nível de uma ponte nova e segura.
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Mas é importante pontuar: isso já passou. E só não se transformou em manchete trágica graças ao início, em setembro de 2023, da obra de reabilitação da estrutura que agora entra em fase final. Ou seja, a ponte não corre mais o risco de colapso.
A Ponte de Igapó, com cerca de 600 metros de extensão, é uma estrutura binária: a primeira parte foi construída em 1970; a segunda, em 1985. Desde então, nenhuma reforma estrutural ampla havia sido feita. O que temos, portanto, são mais de quatro décadas sem reestruturação profunda, mesmo com um tráfego estimado em 70 mil veículos por dia.
Foi essa ausência de manutenção preventiva — e a demora em reconhecer a gravidade do cenário — que levou a estrutura a se aproximar de um ponto crítico.
“O nível de criticidade era semelhante ao da ponte que caiu no Norte. A diferença é que aqui, a recuperação chegou antes da tragédia”, afirmou Roberto Wagner em entrevista à 91 FM, destacando que o risco foi real, mas contido a tempo.
A declaração veio acompanhada de uma crítica institucional: em janeiro, o Crea-RN enviou ofício solicitando planos de manutenção ao DNIT, ao DER e à prefeitura de Natal. Apenas o DNIT respondeu — e é justamente este órgão que vem conduzindo a obra de reabilitação.
Obra deve ser concluída em maio
As intervenções na Ponte de Igapó começaram em setembro de 2023, com previsão inicial de conclusão para janeiro deste ano. Com o avanço técnico e o aumento da complexidade estrutural, a previsão final passou para maio de 2025, como mostra a atualização mais recente do próprio DNIT.
O investimento inicial, de R$ 20 milhões, subiu para R$ 30 milhões com a incorporação de reforços estruturais, substituição de elementos deteriorados, implantação de ciclovia e renovação de toda a base da travessia. A obra está sendo feita no âmbito do Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas (PROARTE) e é financiada com recursos do Orçamento Geral da União.
Além da estrutura viária, também estão sendo recuperadas as barreiras da ponte ferroviária, os passeios de pedestres e os guarda-corpos, respeitando normas de acessibilidade e segurança.
Durante a visita técnica feita pelo Crea-RN com engenheiros civis à ponte, uma das constatações mais relevantes foi a complexidade da operação por debaixo da estrutura.
“A maré interfere diretamente. Há momentos em que o trabalho precisa ser suspenso”, relatou Roberto Wagner, destacando que a falta de manutenção anterior agravou a deterioração de pilares, estacas e elementos de sustentação invisíveis aos motoristas.
Mais do que um alerta técnico, a fala do CREA é um aviso à sociedade e ao poder público: estruturas não ruem de repente. Elas dão sinais. Ignorar esses sinais é o que transforma risco em tragédia.
O colapso da Ponte de Igapó não aconteceu. E é exatamente por isso que a reflexão precisa ser feita agora, antes que o esquecimento volte a assumir o lugar da vigilância. A fala do Crea-RN não é alarmista: é pedagógica. Serve para lembrar que pontes não caem do nada — elas desabam porque foram ignoradas.
Natal escapou por pouco. Que isso seja suficiente para reformular a cultura de manutenção, prevenção e transparência sobre nossas infraestruturas críticas.
Porque obras entregues em maio não podem ser esquecidas em agosto.