Faixa de areia da engorda de Ponta Negra volta a alagar após chuvas em Natal

Enquanto o investimento na engorda visava a preservação do Morro do Careca e da faixa litorânea, a ausência de uma solução completa para a drenagem expõe uma falha de planejamento urbano.
Faixa de areia da engorda de Ponta Negra volta a alagar após chuvas em Natal
Foto: Reprodução / Live Cam Natal

A faixa de areia da praia de Ponta Negra, principal ponto turístico de Natal, voltou a ficar alagada após as chuvas que atingiram a cidade desde a noite de segunda-feira (19). Já na manhã da terça-feira (20), foi possível observar água acumulada em quase toda a extensão da orla, justamente na área onde foi executado o projeto de engorda, que alargou artificialmente a praia com o objetivo de conter o avanço do mar e evitar a erosão do Morro do Careca.

Segundo dados da Emparn (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte), Natal registrou 32,8 milímetros de precipitação nas últimas 24 horas. Esse volume foi suficiente para reacender as preocupações quanto à eficiência da drenagem na área recentemente alargada.

Essa não é a primeira vez que alagamentos ocorrem na faixa de areia. O primeiro registro aconteceu em 13 de janeiro, durante a primeira chuva do ano. Na ocasião, o então secretário de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), Thiago Mesquita, afirmou que o acúmulo de água foi consequência de um extravasamento do esgoto provocado por uma conexão entre dois pontos da rede de drenagem.

Em 14 de março, novamente após chuvas intensas durante a madrugada, a faixa de areia amanheceu com pontos alagados, mesmo após a entrega oficial das obras de drenagem, concluídas pela Prefeitura de Natal em 28 de fevereiro. Na época, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) anunciou a instalação de 16 dissipadores de energia com a promessa de controlar a vazão das águas pluviais. Contudo, a própria pasta admitiu que novos alagamentos não estavam descartados, embora as poças deveriam “infiltrar mais rapidamente” após a obra.

O impacto para os trabalhadores da orla é direto. Comerciantes relatam perdas e queda no movimento de turistas, sobretudo em dias de chuva. A crítica reforça que o problema vai além da própria obra de engorda. A falta de infraestrutura na região de Ponta Negra, especialmente em períodos chuvosos, continua sendo um entrave para a atividade comercial e o turismo, afetando diretamente aqueles que sobrevivem do movimento gerado pela praia.

Enquanto o investimento na engorda visava a preservação do Morro do Careca e da faixa litorânea, a ausência de uma solução completa para a drenagem expõe uma falha de planejamento urbano e gera efeitos imediatos para o dia a dia da população local.

Engorda

O projeto de engorda abrange uma extensão de 4,6 quilômetros, da Via Costeira ao Morro do Careca, e utilizou aproximadamente 1,3 milhão de metros cúbicos de areia. A obra, embora considerada fundamental para conter o avanço das marés, foi executada sem que a drenagem estivesse concluída — o que se tornou alvo de críticas e recomendações técnicas.

Um relatório da Defesa Civil Nacional, responsável pelo financiamento da intervenção, foi claro ao afirmar que o aterro hidráulico só deverá ser iniciado após a finalização dos dissipadores e demais estruturas de drenagem previstas para área. O documento foi divulgado em novembro de 2024, após uma vistoria realizada entre os dias 23 e 25 de outubro.

Além disso, o Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente) havia condicionado a emissão da licença ambiental para a engorda à execução prévia da drenagem. Ainda assim, a Prefeitura de Natal, sob a gestão do ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos), obteve uma decisão judicial que obrigou o órgão a conceder a licença, impedindo o próprio Idema de fiscalizar a obra do aterro.

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