A cidade de João Dias, no interior do Rio Grande do Norte, está no centro de uma investigação que aponta o envolvimento do crime organizado na política local. Segundo reportagem do Fantástico, exibida neste domingo (12), o assassinato do ex-prefeito Francisco Damião de Oliveira, conhecido como Marcelo, estaria ligado a uma disputa de poder com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Com uma população de pouco mais de 2 mil habitantes, João Dias teria sido palco de uma intrincada trama que envolveu financiamento de campanha e um plano para controlar a administração municipal. As investigações da Polícia Civil e da Polícia Federal indicam que traficantes ligados ao PCC atuaram para influenciar as eleições.
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Marcelo e seu pai foram mortos em agosto de 2024, quando o ex-prefeito tentava retornar ao cargo, para o qual já havia sido eleito em 2020. Naquela eleição, ele formou chapa com Damária Jácome, irmã de Francisco Deusamor Jácome, apontado pela reportagem do Fantástico como um dos principais operadores do PCC no Nordeste.
A influência nas eleições
Áudios divulgados revelaram que Deusamor teria oferecido R$ 730 mil a Marcelo para que ele renunciasse ao cargo. Seis meses após assumir a prefeitura, em junho de 2021, Marcelo renunciou, e Damária assumiu o posto.
Durante sua posse, Damária homenageou seus sete irmãos, com uma menção especial a Deusamor e Leidjan, que também eram investigados por tráfico de drogas. Ambos morreram em confronto com a polícia na Bahia meses depois. As investigações apontam que a influência dos traficantes nas decisões da administração municipal era anterior à renúncia de Marcelo.
O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, declarou que “o objetivo de facções como o PCC é tomar o poder político onde houver perspectiva de lucro, inclusive com recursos públicos”. Em 2023, a receita de João Dias foi de R$ 23 milhões, segundo o IBGE.
A investigação
Um relatório sigiloso da Polícia Federal apontou tentativas de interferência de facções em pelo menos 42 cidades brasileiras durante as últimas eleições municipais. No estado de São Paulo, o PCC teria investido cerca de R$ 8 bilhões em candidaturas.
Em 2022, a Justiça revogou a renúncia de Marcelo e o reconduziu à prefeitura. A partir de então, ele passou a colaborar com as autoridades, fornecendo informações sobre os integrantes da família Jácome.
Na eleição seguinte, Marcelo disputou a prefeitura contra a ex-vice-prefeita Damária. As investigações indicam que Damária e sua irmã Leidiane Jácome, que era vereadora na cidade, contrataram criminosos para executar o então candidato.
O crime e a fuga
Os executores ficaram escondidos por dez dias em um sítio da família Jácome, onde gravaram vídeos com referências à quadrilha e às armas da família. Uma tentativa anterior de assassinato teria sido descartada por ocorrer durante um culto evangélico.
Nove suspeitos foram presos, e quatro permanecem foragidos, incluindo Damária Jácome e Leidiane Jácome. Atualmente, a prefeita de João Dias é Maria de Fátima Mesquita da Silva, viúva de Marcelo, que assumiu o cargo após o assassinato.
A prefeitura informou que o município vive um momento de intranquilidade e que trabalha para restabelecer a normalidade. A defesa de Damária e Leidiane nega o envolvimento delas no crime e afirma que ambas deixaram a cidade após sofrerem ameaças.
A investigação continua em andamento. As autoridades acreditam que o caso de João Dias revela uma nova estratégia do crime organizado: infiltrar-se nas estruturas do poder municipal para lavar dinheiro, controlar repasses públicos e manter influência sobre comunidades vulneráveis.
O prefeito de João Dias, Francisco Damião de Oliveira, conhecido como Marcelo Oliveira, foi assassinado enquanto ajudava as autoridades na investigação contra a família Jácome, da vice-prefeita da cidade, Damária Jácome (Republicanos).
Segundo a polícia cívil, Marcelo relatou que vinha sendo ameaçado pelos irmãos de Damária Jácome por estar fornecendo informações sigilosas sobre a família. A principal suspeita é de que ele tenha indicado o paradeiro dos quatro irmãos Jácome que estavam foragidos na época: Francisco Deusamor Jácome de Oliveira, Samuel Jácome de Oliveira, José Romeu Jácome de Oliveira e Leidjan Jácome de Oliveira. Todos eram suspeitos de tráfico internacional de drogas.
De acordo com o inquérito do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), Damária e sua irmã, Leidiane Jácome, são apontadas como as mentoras intelectuais do plano que resultou na morte do prefeito e de seu pai. O crime, ocorrido em 27 de agosto de 2024, envolveu ao menos 13 pessoas, entre executores, articuladores e apoiadores logísticos, sendo elas:
- Damária Jácome
- Leidiane Jácome
- Olanir Gama da Silva
- Francisco Emerson Lopes
- Heliton Barbosa
- Jadson Rolemberg
- Gildivan Júnior
- Thomas Tomaz
- Rubens Gama
- Weverton Batista
- Everton Dantas
- Carlos Claudino
- Marcelo Alves
Um dos suspeitos, Josenilson Martins da Silva, foi encontrado morto em outubro de 2024, na zona rural do município de Antônio Martins.
As investigações ainda revelaram que os envolvidos planejavam não apenas o ataque que vitimou Marcelo Oliveira e seu pai, mas também um novo atentado contra a atual prefeita da cidade, Maria de Fátima Mesquita da Silva, conhecida como “Fatinha”, viúva do ex-prefeito assassinado.