A liberação de Edilson Florêncio da Conceição, conhecido como Edilson Moicano, após ser condenado a oito anos e dois meses de prisão por estupro, reacendeu debates sobre o sistema de Justiça e a segurança das mulheres no Brasil. Natural de Caicó no Rio Grande do Norte e ex-lutador de MMA, Edilson foi solto nesta segunda-feira (9) após decisão da Justiça do Ceará que autorizou que ele recorra da sentença em liberdade.
A decisão causou comoção e indignação pública, especialmente após a vítima, a empresária Renata Coan Cudh, vir a público em vídeo [veja mais abaixo] para relatar detalhes do crime e pedir apoio. “Fui sequestrada, violentada e estrangulada até quase a morte”, desabafou.
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Segundo ela, mesmo com provas materiais, depoimentos de policiais militares e confissão do réu, a Justiça optou pela liberdade por ele ser réu primário e possuir bons antecedentes.
O caso ocorreu na madrugada de 19 de janeiro de 2025, em Fortaleza, após Renata sair de uma festa no Bairro Edson Queiroz. Edilson, que atuava como motorista de aplicativo, a abordou do lado de fora do evento. A vítima, ao tentar voltar para casa, acabou entrando no carro do lutador — que desviou a rota e a levou para uma área de matagal, onde cometeu o estupro.
Durante o ataque, Renata foi imobilizada com um golpe de “mata-leão”. Ao recobrar a consciência, já estava sendo violentada. Gritando por socorro, foi ouvida por uma equipe de três policiais militares, que se aproximaram, flagraram a cena e efetuaram a prisão. No carro, uma faca foi encontrada, e o agressor ainda tentou fugir, precisando ser contido à força.
Mesmo após a condenação por estupro de vulnerável, já que a vítima estava alcoolizada, e dois meses por resistência à prisão, a juíza Adriana Aguiar Magalhães, da 5ª Vara Criminal de Fortaleza, determinou que o réu poderá aguardar o julgamento de recursos em liberdade. Segundo a magistrada, “a primariedade e os bons antecedentes” de Edilson permitem o benefício.
“Mesmo com o depoimento de três policiais, exame de perícia, o réu confessando o crime e toda a violência que sofri, ela julgou que ele poderia responder em liberdade. O sistema está dizendo para outras mulheres que a palavra delas não basta”, afirmou Renata nas redes sociais.
A defesa de Edilson, representada pela advogada Carolina Dantas Azin Rocha, argumentou que a decisão respeita os princípios constitucionais da legalidade, proporcionalidade e individualização da pena. Em nota, afirmou que a medida “não representa absolvição nem impunidade”, mas o respeito ao devido processo legal.
A vice-governadora do Ceará, Jade Romero, que também é secretária estadual de Proteção Social, declarou apoio à vítima:
“A dor da Renata é de todas nós, mulheres. Mas deve ser também a dor de toda uma sociedade que diariamente vivencia a impunidade da violência de gênero.”
Edilson ficou preso por 4 meses e 12 dias, tempo que já cobre a pena por resistência. O restante da pena totaliza 7 anos, 9 meses e 18 dias, a serem cumpridos futuramente.
Repercussão e risco à vítima
Renata relatou que optou pelo silêncio durante meses para preservar sua saúde emocional e sua família, mas decidiu tornar público o que viveu após a soltura do condenado.
“Eu não era a primeira. Não seria a última. Se não fosse eu naquela noite, seria outra mulher. E talvez essa mulher não estivesse aqui para contar.”
Ela afirma que teme por sua segurança e cobra que a decisão seja revista. “Como vou ter paz sabendo que ele está nas ruas?”, questiona.
Com quase 20 mil seguidores nas redes sociais, Edilson tem histórico como lutador de MMA, muay thai e jiu-jitsu. Segundo registros de sites especializados, soma 32 lutas desde 2005, tendo competido pela última vez em 2016. Mais recentemente, ministrava aulas de muay thai em academias de Fortaleza.