Brasil e China farão estudos para a Ferrovia Bioceânica até o porto de Chancay, no Peru

Brasil e China firmaram memorando para estudos da Ferrovia Bioceânica conectando Fiol, Fico e Norte-Sul ao porto de Chancay (Peru), reforçando Rotas de Integração BRICS.
Brasil e China farão estudos para a Ferrovia Bioceânica até o porto de Chancay, no Peru
Foto: © Michel Corvelo/MT

Em um passo decisivo para ampliar a integração logística sul-americana, o Brasil e a China assinaram hoje, no Ministério dos Transportes em Brasília, um memorando de entendimento para a realização de estudos conjuntos sobre a construção de um corredor ferroviário que vai conectar os oceanos Atlântico e Pacífico. O acordo reúne a estatal brasileira Infra S.A. e o Instituto Chinês de Pesquisa Econômica e de Planejamento Ferroviário (China Railway Economic and Planning Research Institute).

O projeto prevê a interligação das ferrovias de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Centro-Oeste (Fico) com a Ferrovia Norte-Sul (FNS) e, a partir de Lucas do Rio Verde (MT), seguir pela fronteira com a Bolívia e Rondônia até o sul do Acre, alcançando o recém-inaugurado porto de Chancay, no Peru. A Fiol já opera parcialmente entre Ilhéus (BA) e Mara Rosa (GO), ponto em que a Fico prossegue até Lucas do Rio Verde, onde se iniciará a Ferrovia Bioceânica.

Em sua fala durante a cerimônia, o ministro dos Transportes destacou o caráter multimodal da proposta. “Queremos unir rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos em um sistema contínuo de mobilidade, reduzindo custos e tempo de escoamento para a produção brasileira.” A parceria com a China reforça, segundo ele, o compromisso de acelerar esse processo por meio de experiência técnica e financiamento de instituições asiáticas.

O estudo contemplará, entre outros pontos, mapeamento detalhado do traçado, viabilidade econômica, riscos ambientais e integração com as estradas federais BR-364 e BR-317 no Brasil e a rodovia Irsa Sur no Peru. Atualmente, esse eixo já permite o transporte de cargas de caminhão até Chancay, a cerca de 70 km de Lima, mas carece de soluções ferroviárias para aumentar capacidade e segurança.

Estrutura do programa “Rotas de Integração”

A Ferrovia Bioceânica integra o programa Rotas de Integração Sul-Americana, lançado em 2023 pelo Ministério do Planejamento e Orçamento. A iniciativa prioriza obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que unam modal rodoviário, ferroviário e fluvial ao longo das fronteiras. Pelo cronograma, a conclusão dos estudos deverá orientar investimentos via Novo PAC, um dos quatro eixos estratégicos acordados entre Lula e Xi Jinping em novembro de 2024, ao lado de Nova Indústria Brasil, Plano de Transformação Ecológica e o próprio Rotas.

Em abril, uma equipe chinesa visitou Brasília para debater o projeto com a Casa Civil, os ministérios do Planejamento e dos Transportes. Na cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro, realizada nesta segunda-feira, os chefes de Estado reforçaram em declaração conjunta o compromisso com infraestrutura de transporte sustentável e respeitosa à soberania nacional dos membros.

Impactos esperados

Especialistas estimam que o corredor reduza em até 40% o custo de exportação de grãos produzidos no Centro-Oeste, além de dinamizar o comércio intra-regional com países vizinhos. Ambientalistas, por sua vez, pedem que os estudos considerem corredores de fauna e medidas de mitigação de desmatamento, já que o traçado cortará áreas de floresta no Acre e Rondônia.

Para produtores, municípios e governos estaduais, a integração ferroviária oferece uma chance única de elevar a competitividade do agronegócio brasileiro. O resultado dos estudos, que deverá ser divulgado até o primeiro trimestre de 2026, servirá de base para a elaboração de projetos executivos e a abertura de linhas de crédito junto a bancos nacionais e parceiros internacionais.

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