Vitória para quem sofre com endometriose: SUS vai oferecer DIU hormonal gratuitamente

O dispositivo, que pode custar entre R$ 600 e R$ 1.000 na rede particular, passará a ser uma alternativa acessível e contínua para mulheres acompanhadas na rede pública.
Vitória para quem sofre com endometriose: SUS vai oferecer DIU hormonal gratuitamente
DIU hormonal

Uma nova política pública de saúde voltada às mulheres foi aprovada no Brasil: o Sistema Único de Saúde (SUS) passará a oferecer, gratuitamente, o dispositivo intrauterino (DIU) hormonal, conhecido como Mirena, para pacientes diagnosticadas com endometriose. A medida representa um avanço significativo no acesso ao tratamento de uma das doenças ginecológicas mais prevalentes e incapacitantes entre mulheres em idade reprodutiva.

A inclusão do método foi aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) e publicada no Diário Oficial da União na última semana. A partir da decisão, o sistema público de saúde terá até seis meses para viabilizar a distribuição do dispositivo em todo o país, conforme o prazo legal estabelecido para a incorporação de novas tecnologias ao SUS.

O DIU hormonal, que libera gradualmente o hormônio levonorgestrel, será ofertado a pacientes com endometriose que apresentem contraindicações ao uso de contraceptivos orais ou que não tenham obtido melhora com esse tipo de tratamento. A proposta é reduzir os efeitos do estrogênio e a espessura do endométrio, aliviando os sintomas da doença.

Endometriose: dor invisível e negligenciada

A endometriose afeta, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no Brasil. Trata-se de uma condição inflamatória caracterizada pela presença de tecido endometrial fora do útero, atingindo ovários, intestinos e até outros órgãos. A doença provoca cólicas intensas, sangramento irregular, infertilidade e impactos significativos na qualidade de vida, sendo muitas vezes subdiagnosticada ou confundida com outras disfunções ginecológicas.

O acesso ao DIU hormonal pelo SUS representa uma resposta concreta à demanda de pacientes que convivem com a doença e enfrentam barreiras econômicas para custear o tratamento na rede privada. O dispositivo, que pode custar entre R$ 600 e R$ 1.000 na rede particular, passará a ser uma alternativa acessível e contínua para mulheres acompanhadas na rede pública.

Além da contracepção: o DIU como aliado terapêutico

Embora amplamente conhecido como método contraceptivo, o DIU hormonal é utilizado também para tratar diversas condições ginecológicas, incluindo:

  • Fluxo menstrual intenso (menorragia)
  • Cânceres ginecológicos, como o endometrial
  • Terapia de reposição hormonal durante a menopausa

A ação do levonorgestrel no útero promove o afunilamento do revestimento endometrial e reduz a circulação local de estrogênio, o que não apenas impede a gravidez, mas também modula processos inflamatórios e interrompe estímulos hormonais anormais.

Para mulheres que não podem utilizar hormônios, o DIU de cobre continua sendo uma alternativa viável. Embora não trate a endometriose, é eficaz na contracepção e pode ser recomendado em situações específicas.

DIU como contracepção de emergência: o que pouca gente sabe

Uma função menos conhecida, mas extremamente eficaz do DIU, é sua utilização como contracepção de emergência. Quando inserido em até 72 horas após uma relação sexual desprotegida, o dispositivo apresenta eficácia comparável à laqueadura, com índice de falha extremamente baixo — entre 1 e 5 casos a cada mil mulheres.

No entanto, caso ocorra uma gravidez com o DIU já implantado, a remoção do dispositivo pode ser necessária para reduzir riscos à gestação. Essa decisão deve ser avaliada por um profissional de saúde caso a caso, considerando a localização do DIU e a viabilidade da gestação.

Avanço estrutural no cuidado à saúde feminina

A incorporação do DIU hormonal no SUS é parte de um movimento mais amplo de ampliação do acesso a tecnologias reprodutivas e terapêuticas que historicamente estiveram restritas à população com acesso à saúde suplementar. A medida também se alinha às diretrizes de equidade de gênero e autonomia reprodutiva, uma vez que oferece opções personalizadas para as mulheres de acordo com suas necessidades clínicas e sociais.

Com a decisão da Conitec, o Brasil dá um passo importante na consolidação de políticas públicas voltadas à saúde da mulher, sobretudo para um grupo de pacientes que, por anos, sofreu com o subfinanciamento, a desinformação e a invisibilidade institucional.

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